(Então gente, abrindo parêntese, só para lembrar — as apresentações da “equipe” [no caso, nós] vão sendo aos pouquinhos; quem somos, o que fazemos, etc. A gente ainda tá acertando o blog. Vamos nos conhecendo melhor, e com calma, como diria a D’aryl: e bem devagarinho, para ganharmos mais intimidade, tá bom?
Ah sim, — o formato, se é que tem de haver exatamente um (só pra gente se situar) tá sendo isso aqui, no que a gente pensou:
A gente primeiro apresenta um tema/problema, semanalmente, ou bi-semanalmente; não necessariamente um tema específico. E aí damos pitacos, mais um convidado, que pode ser um açougueiro, um ET, a Márcia Goldsmith, o Hitch, a Hebe — mas que infelizmente hoje não teremos, porque a gente não tem cachê pra dar. Depois da problemática toda, a gente vai pro mais importante, e pro mais interessante: a sua opinião.
Portanto, lembremos de divulgar, pois quanto mais opiniões, mais rica e diversa e divertida será a nossa prosa.
Estamos abertas a sugestões.
AOS FINALMENTES
Bem, a Anita, ou a Aninha, como a gente costuma chamar, fez questão de ser o primeiro texto a ser publicado no blog. Quis perder logo a virgindade neste blog. Ela insistiu tanto, mas tanto, que não teve jeito, cedemos: sagitarianas. O texto tá lá meio grande, mas como ela escreve muito bem e a gente é muito fã dela, deve estar uma maravilha. Ela diz estar com raiva e uma série de coisas, até porque senão não estaria aqui, pela situação em que ela mesma se descreve.
Portanto fecho parênteses, deixo vocês com a história.)
parte 1 - COMO VOCÊ SE SENTE.
Por Anita Da Mata
Você chega em casa depois de um dia caótico. Teve um período cheio, depara-se com um engarrafamento daqueles, o tempo demora a passar. Você chega bem depois daquela hora em você se programou para resolver suas pendências. Chega atrasada até para si mesma. Cruza a porta de casa, ou sobe os degraus de seu apartamento. Abre a porta, só vê o escuro, o silêncio, sente o cheiro de poeira. Você se encontra sozinha. Depara-se com os cômodos vazios, ou aqueles empoeirados que não deram muito tempo de limpar por causa das atribulações diárias, ou até; mesmo que tenha gente em casa, seus companheiros de quartos, seus parentes; eles dentro, imersos no próprio mundinho fechados deles, o que lhe resulta na conclusão de estar mais solitária ainda. Você está sozinha. Na rua você vê outras pessoas gozando de um relacionamento feliz, e fica pensando de que maneira elas conseguem isso, o que você não tem o que elas têm. O que tem em sua casa, e em você desde a porta são aqueles estilhaços de sua relação passada. A pessoa terminou contigo, ou você terminou com a pessoa, e você está solitária. E você acha que vai estar assim pro resto da eternidade. Você chegou em casa, vai direto para o seu quarto, como se estivesse numa avenida movimentada, com pessoas por todos os lados, e, continua sozinha. Não está esperando ligação de ninguém, nem um bouquet de flores, nem um prêmio da Mega Sena, nem uma carta. A não ser as velhas contas de água/luz/telefone, a fatura do cartão que sempre chega antes de você receber dinheiro, as cobranças, as coisas que você deve aos outros. Ninguém te deve nada. Ninguém. Nada. Você está sozinha. Carentíssima. A sua casa, o seu quarto, estão desarrumados. Você não liga. Até porque quando se arruma um cômodo é porque geralmente você espera que alguém apareça por lá. Mas ninguém quer. Mas ninguém vai aparecer. Você está só. As pessoas que você nunca viu na rua dão um aceno tosco para você, e você sorri, feliz para o vazio, pois finalmente alguém falou com você, foi até você; pois isso é a única coisa que você tem. Mas nem sempre o aceno é para você. Na maioria das vezes. Tudo está errado, nada faz sentido. Sim, decide trocar de roupa. Quem sabe: “se livrar das energias tensas impregnadas na roupa” te deixaria melhor. Não resolve. Você mesmo está sozinha. Olha para o seu rosto de copo d’água parada, o seu corpo em frente ao espelho do armário, do guarda-roupa. Percebe suas imperfeições, aquilo do que você definitivamente não gosta, estranha-se, sente-se feia, desgostosa, indesejada, inútil, fracassada, coagida, tanto que não consegue mais ficar se observando ali durante muito tempo. Você está sozinha no quarto. E em qualquer lugar. Deita durante um bom tempo na cama, se toca, não sente absolutamente nada.
Lembra daquela música do Arnaldo Antunes, e não sabe se ri, ou se chora.
Vai para o banheiro tomar banho. Você continua sozinha. Chora bem baixinho debaixo do chuveiro. Miúda. Metade do choro, forçada; por favor, — porque o que na verdade você queria mesmo era dar um berro bem alto para partir Deus e o universo ao meio, mas tem de choramingar engolindo água e todos as cobras e lagartos do mundo, pra ninguém descobrir a sua fragilidade e você não se sentir a “digna de pena”, ou preparada para ser esmagada que nem uma barata pelos outros, mais do que você já foi por si mesma e por quem você não queria que fosse.
Uma barata: você se sente uma barata. Ou senão aquilo que você tem muito nojo, odeia muito.
Tranca a porta do quarto, mesmo que saiba que ninguém vá ao menos bater nela. Você está MUITO sozinha. Liga o rádio numa estação qualquer, desiste de fazer qualquer coisa, briga até com a cama na hora de dormir. Nem ela te quer. Dorme, e acorda com um desgosto amargo na boca.
Tudo se repete no dia seguinte.
parte 2 - ANTES FICASSE SOZINHA. oU NÃO?
De repente, ou ás vezes nem tão de repente assim, surge aquele alguém. Claro, [não] é a pessoa da sua vida, [não] te deixa “arrebatada” ASSIM, como eu costumo dizer; ao menos ela te traz alguma coisa de boa, alguma paz, te faz se sentir bem, te dá atenção, tem um bom humor incrível, te encanta, liga pra você, cuida de você, te desvenda, te faz rir, tem fogo [muito] e sabe acender um, é fantástico para o momento e te faz esquecer de todos aqueles dias em você se acabava escondida no banheiro, ou quando chegava em casa entediada; te faz se preocupar menos com as coisas que te afligiam. Te dá vontade de arriscar na vida. É uma pessoa muito bacana. Maravilhosa eu diria; embora não seja e você saiba disso, perto do que você já viveu até hoje: não é uma coisa “avassaladora” (outro termo que utilizo). Você gosta de conversar com esta criatura, gosta de ouvir a sua voz ao telefone, se sente à vontade com ela. Ela te respeita muito, e você vê isso; parece te entender na maioria das vezes [pois te entender por completo é muito difícil, só a sua mãe, ou seu analista mesmo], compreende a sua situação, tem paciência contigo, te faz esquecer do mundo, mesmo que por alguns minutos, segundos, centésimos, milésimos, milionésimos.
Quando esta pessoa vai embora, ou dá tchau no telefone, você sem entender muito porquê, transforma-se naquela música da Vanessa da Mata:
Lembrando: ah, caso eu não disse em algum momento neste texto, do jeito como sou tapada, olha que vocês só estão f-i-c-a-n-d-o.
Sério, não é nada sério. Vocês conversaram e tudo está claro sobre isso. Vocês dois não tem condições nem temporais, tampouco sentimentais de se deixarem levar demais nessa história, ao menos foi o que vocês disseram, ou deixaram entender.
Você não quer nenhum relacionamento, ou “envolvimento” sério, no momento; pois está mesmo traumatizada com aquela sua última relação, não quer se preocupar com uma série de coisas que te deixaram frustradas por um momento e nas quais realmente você mesma precisa de um tempo “sozinha” [espero que estejam entendendo o que estou dizendo] e longe daquelas "regras básicas de uma relação", para se readaptar até ceder pra tudo aquilo do que você já sabe.
Mas isso não a impede de até pensar em algo mais sério. Claro, você quer sempre o melhor pra você. Poderia ser bacana, uma pessoa bacana, embora [eu] acredite muito mais nessa coisa de se apaixonar primeiro, se arrebatar... “pode ser que a gente construa”, — você pensa. Mas você não sabe por onde ir. Por onde começar. Não tem idéia do que seria “construir” numa relação. Não quer falar com a pessoa isto, pra ela não pensar que você está apaixonada, e nada vai tirar dela essa impressão. Antes ela estar, você se livraria mais fácil, ou não. Você se importa muito com isso. Estar gostando de alguém, — pior esta pessoa estar sabendo né? — vai te fazer sentir fraca, sucessível à inúmeras mágoas. E é isso de longe, a última coisa que você quer sentir. Mas você já está se sentindo assim, mesmo sem estar passando por isso aí que você está, cheia de melindre. Você começa a se sentir desconfiada, começa a perceber que algo pode estar mudando em você [ou não, muitas amigas minhas disseram que na maioria das vezes é impressão, desde quando as coisas estão – claras -], ou em quem está contigo. Morre de medo de estar se metendo em alguma história nova, em algum bolo doido. Está morrendo de medo de entrar num novo relacionamento [ou de magoar alguém como você foi magoada, ou como já magoou], subestima a pessoa. Depois você se sabota. Você não consegue curtir direito o momento a partir de quando pensa no futuro com ela. Estar com ela torna-se um tormento, uma novela mexicana. Não que não fosse bom pensr lá na frente, mas era uma coisa que você não gostaria de pensar no momento, de jeito nenhum. Porque as coisas nunca acontecem como a gente espera, e não ter controle de alguma coisa é muito ruim, desesperador. Você se precipita. Pré-concebe. Pré-ocupa-se. Você quer mas não quer. Pode mas não pode. Pode até saber o que quer e o que não quer, o que pode mas não pode, mas mesmo assim você tem medo.
Você está confusa.
Aliás, você queria ser dionisíaca, sabe? Pensar no agora — sem se preocupar muito, nem machucar ninguém, — viver o agora. Mas você não é nenhum deus, de qualquer panteão. E tem sentimentos. Muitos sentimentos. É gente. Mortal. Humano. Limitado. Não pode tudo.
E nós, seres humanos, brincamos com o tempo. Ou é ele que brinca com agente.Ficamos com medo do passado, passamos o tempo presente desesperadas, e o futuro, a gente nem quer pensar pra não ficar mais maluca ainda.
Ok, então você some, foge, muda de comportamento, diz que não quer mais. Ou senão inventa impecílios: muito artigo da faculdade, minha monografia, meu estágio, escola, trabalho, “vou ter que viajar a negócios” [essa foi a minha mais nova, depois de estar passando mal, ter quebrado o braço, etc. Estou saindo e voltando escondida sempre] se isola, se esconde, intoca, fica invisível. E a pessoa te procura. Você não sabe o que dizer; a pessoa é bacana, não tem muito lá haver com suas confusões, mas está pagando o pato por não entender direito as suas dúvidas. Você está com medo, se sente sozinha novamente. Se afasta desta pessoa. Ela não entende. Aí você cria inúmeras desculpas para se afastar dela. E você acaba magoando esta pessoa, sem querer. Magoa a confiança, a auto-estima dela, uma série de coisas. Vira um desastre.
Voltando: você quer mas não quer, pode mas não pode, não sabe o que fazer.
— “Você não tá idealizando demais não Ani? Esse é o problema fofinha.” Frase da Ve, que resolvi citar aqui.
E agora? Você fica com aquele medo de ou você ou ela estar confundindo as coisas, e se afasta, e de repente, de repente mesmo, você decide o que não mais queria...
Decide ficar sozinha.
Não preciso dizer novamente que não sei o que fazer, né?
Resposta da Ve - A gente procura idealizar sim fofinha, obrigada pela citação. O grande problema é quando nos tornamos escravas dessa miséria toda. A gente para o tempo às vezes por “nada”, enquanto as coisas estão muito fluindo, e boas pra gente. Parece até que é cuspir no prato que a gente come. E realmente, não é fácil. Não somos tão evoluídos a este ponto. Mas é tanto obóvio que a gente não tem de ficar viajando demais, sonhando muito. Mas que razão demais atrapalha, atrapalha sim. Eu, Maria Eveline Medreiros, em minha opinião, acho que não me importaria tanto com isso, mas sei o quanto é difícil. Já fiquei tão sozinha, que me sentia tudo aquilo que você disse [é incrível o que você escreveu]. Mas ao mesmo tempo, quando estava com alguém, independente do que eu tivera passado, procurava encarar este momento como algo natural. E é. Ainda mais quando essa pessoa é esta criatura e tanto, como você diz. Ele, ela me passa confiança. Ao menos, o que eu conheço dela. E conhecer, essa pra mim é uma questão importante. Conhecer-se. Conhecer o outro até se pensar no futuro, pra mim, já é uma diferença muito grande numa relação.
Bem, Ani, cadê os defeitos dessa pessoa que você não me disse até agora? Certeza que ela é legal, e que não possa estar te manipulando, mesmo que da maneira mais inocente possível, e você está notando agora? Certeza que você não está envolvida demais, como você diz não querer estar? E se não for este medo de magoar? Sim, exclusivamente de passar pelas mesmas coisas de relacionamentos fantasmas-passados, de ser magoada?
Quando a gente é assaltada uma vez, no dia seguinte a gente acha que qualquer um vai fazer isso com a gente, a qualquer momento; na rua.
Certo, a gente se traumatiza. Mas as pessoas são outras.
Ani, nada, se repete, a não ser que a gente deixe, ou queira. Você com certeza deve ter aprendido muito com esses relacionamentos. Todo mundo aprende alguma coisa. Eles são bons a este ponto. Se a gente sente dor, ou medo, é porque algo está errado. E preconceitos, ah são complicados. A gente quer ser amada, não mais usada, sai de um período de carência desses, e é muito natural que um susto desses ocorra também. É muito difícil encontrar uma pessoa que trate a gente bem, que nos faça sentir desejadas, cuide da gente da maneira que a gente precisa, ou deseja, que a gente gosta, que pede desculpas sinceras mesmo quando vacila muito com a gente, que seja maravilhoso só por tentar ser maravilhoso conosco. Aí sei, não tem mesmo como não passar pela cabeça o danado do futuro. Mas, o que custa curtir o momento, se sentir bem, leve, quando se pode, independente de ter algo mais sério no futuro, ou não, já que os dois lados “sabem” o que querem? A delícia é esse misteriosinho mesmo. E de arriscar ou não, só vocês conversando, sendo francos um com o outro, sabe? Por mais “sério” que não seja, é mesmo assim uma relação. Sempre considero muito as relações, pra mim são coisas muito sérias. Até ficar, “sem compromisso”. E compromisso, mesmo que rapidamente, é uma coisa que não deve faltar.
É simples:
Você não tem que dar chance a ele primeiro.
Tem que dar a você mesma, benzinho.
Resposta da D'aryl - Menina, como você escreve, que coisa.
Já estava imaginando as loucuras que eu faria no seu lugar. Ou ia ou não ia. Ou vai ou racha. Nada de indefinições, de devaneios demais. A gente quer isso tudo sim, aparece a tal pessoa legal, você se encanta, era o que você queria, e na hora, se indefine, desestabiliza e...
...
...
Ficam as reticências, você não sabe o que fazer.
E pra mim, o grande problema são essas definições que inventam:
Ah, namorar, pra que serve namorar? O que é isso?
Se envolver, — haha, tenho muitos amigos com cada história...
E a gente passa a se preocupar com que o outro pensa, com o que você quer dentro desses conceitos, e continua sozinha. Conceitos. Pensa demais. SE SABOTA MESMO.
Não acredito muito nestes relacionamentos certinhos. Os que você fala de se apaixonar . Acho que as coisas são construídas. Amores “arrebatadores” assim acontecem vez ou outra e são acontecimentos geralmente de escola primária, ou ginásio. Ou de gente meio “cão-sem-dono”. É bom conhecer, conhecer os defeitos, principalmente, possibilitar com que as coisas fluam. Conhecer na cama, conhecer no beijo, nas palavras. Mesmo que se tenha que tentar de novo, caso venha a valer a pena, é bom lembrar. Tem gente que já fica louco com 36 horas, como já aconteceu comigo. Tem gente que já se vidra na primeira impressão.
Hum, cuidado, mortais.
A solidão é ruim. Tem dia que a gente fica na larica mesmo, parece não mais agüentar. A gente não sabe se está sozinha ou pela desilusão amorosa, ou por nossa chatice. Mas, não, não é. É acomodação. Os relacionamentos passam, a gente continua. Ficaria só preocupada se se o cara ou a menina com que eu namorei ou fiquei me ameaçasse de morte; ou me perseguisse pelo resto da vida, fosse algo que nem Instinto Selvagem, ou que eu maltratasse, — antes que vocês pensem que eu sou tirada à madrasta da branca de neve. Sei lá. A gente sofre sim, mas como diria alguém que não sei quem é, “sofrer é opcional”. A gente tem sempre forças pra superar algo. É só a gente sair da postura de vítima e andar. Tudo é um risco, não tem jeito. O pior é ficar no meio do muro, na corda bamba. Uma hora você cai pra um lado que é o que você não quer cair. A pessoa com quem você estava saindo, já deve estar batendo a cabeça no chão, ou senão já deve estar desencanando, partindo pra outra. Diz a ele como você se sente, se liberte de sabotagens!
Tem um texto de psicologia de AFR (Análise Funcional dos Relacionamentos) que achei muito parecido, ou igual com o que você está nos dizendo.
Resume bem, assim:
“Para que se evite o sofrimento (o que em Análise Funcional chamamos de Estímulos Aversivos), alguns indivíduos emitem comportamentos aparentemente inadequados às circunstâncias. Um exemplo clássico é quando o indivíduo x conhece alguém muito interessante, com quem consegue relacionar-se bem durante um ou alguns encontros, percebe que o relacionamento entre ambos tem alta probabilidade de florescer, e justamente por isso passa a sabotá-lo, impedindo que a relação se estabeleça: deixa de atender telefonemas, responder às solicitações do outro. As contingências de reforço (encontrar a pessoa ideal) o remetem ao passado, quando em circunstâncias parecidas foi punido positivamente com a traição. A partir daí o indivíduo x passa a emitir comportamentos de fuga no presente, e certamente de esquiva no futuro.”
e AÍ?